“Legado não é o que você deixa para as pessoas, legado é o que você deixa nas pessoas” Deive Leonardo Martins, escritor, YouTuber, autor de “Final da tempestade” (2020) e “Colocando a vida em ordem” (2023).

A educadora Viviane Ramos de Souza, autora da Viver Editora (livro para o 2º Ano – Anos Iniciais), concedeu entrevista ao blog da Viver Editora sobre legado, escolhas e bagagem de vida.

Além disso, comentou analogias como “rosas têm espinhos ou os espinhos têm rosas?”. Outra comparação analisada pela autora foi: “trocar a telha quebrada ou aceitar as goteiras?”, fazendo conexões com a educação.

Viviane Souza

A parceria entre família e escola é definidora na construção de um legado?

Viviane R. de Souza

Legado, usado no contexto da educação, refere-se aos valores e crenças passados de uma geração para outra. Educamos pelo exemplo a todo tempo, pois as crianças observam e copiam os comportamentos e atitudes dos adultos que as cercam.

Desta forma, a escola e a família precisam falar a mesma linguagem na transmissão dos valores que querem ajudar a desenvolver nas crianças, tais como: respeito e solidariedade.

“As rosas têm espinhos ou os espinhos têm rosas?”. As analogias são importantes no processo educativo?

Viviane R. de Souza

Muito importantes. Quando contamos histórias, parábolas, fábulas ou damos exemplos daquilo que queremos ensinar, trazemos o assunto para mais perto dos alunos (sejam crianças ou adultos), tornando a aprendizagem mais significativa. Partimos de algo comum, conhecido ou facilmente imaginado pela maioria, para apresentar conteúdos mais complexos ou abstratos.

A comparação ajuda no entendimento?

Viviane R. de Souza

Ao comparar com rosas delicadas e cheirosas (qualidades admiráveis) que carregam espinhos (defeitos), facilitamos a compreensão do que queremos ensinar: todos possuem qualidades e defeitos com os quais precisamos conviver.

familias

Como é possível “viver bem” no âmbito pessoal e comunitário?

Viviane R. de Souza

Viver bem é possível, mas depende de como cada pessoa encara a própria vida, das crenças e valores individuais, e da convivência com os outros. Eu posso achar que vivo bem, enquanto alguém que olha de fora pode achar que minha vida não é boa ou vice-versa.

A qualidade de vida é influenciada pelo ambiente em que vivemos e pela sociedade à nossa volta. O que, ao longo de nossa história, “aprendemos” como uma “boa condição de vida” é que nos leva ao esforço de mudar ou a permanecer da maneira que estamos.

Pode-se dizer que viver bem é “transformar o ambiente”?

Viviane R. de Souza

Acredito que sempre podemos encontrar formas de viver melhor e de transformar o ambiente e a comunidade em que vivemos, mas isso exige esforço, tanto pessoal quanto comunitário. Primeiro, eu preciso querer e me esforçar para alcançar um determinado objetivo; depois, posso influenciar outros a fazer o mesmo em prol do bem comum.

Melhorar o relacionamento comigo mesmo e com os outros, batalhar para realizar sonhos, cuidar da saúde, desenvolver novos hábitos, deixar vícios, são atitudes que podem ser tomadas quando se busca de se viver melhor.

telhado

 

“Trocar a telha quebrada ou aceitar as goteiras?”. As famílias precisam aprender a parar, pensar e agir?

Viviane R. de Souza

“Trocar a telha quebrada ou aceitar as goteiras?” … de que adianta só reclamar, se você não está disposto a resolver o problema? É fundamental que se aprenda a refletir, tomar decisões e partir para ação, seja em âmbito pessoal, profissional ou familiar.

Ação sem reflexão não resolve o problema e ainda, muitas vezes, cria outros… Reflexão sem ação é tempo perdido, uma vez que você pode ter várias ideias, mas o problema continua lá. Neste caso, seria: ou assume que as coisas são assim, e ok, vivemos bem com isso, ou paramos, buscamos uma solução efetiva para o problema e partimos para ação, até resolver tudo.

É importante ensinar as crianças a fazerem escolhas?

Viviane R. de Souza

Quando queremos que nossos filhos desenvolvam a capacidade de pensar e fazer escolhas, coisas fundamentais dentro do processo de autonomia, precisamos despertar isso neles desde cedo, através das questões simples do dia a dia. À medida que amadurecem e os problemas se tornam mais difíceis, eles vão aprimorando essa capacidade.

É importante que aprendam a tomar pequenas decisões (entre esta ou aquela roupa, por exemplo) e arquem com as consequências de suas escolhas (escolheram este brinquedo para levar para escola, é com ele que vão brincar). Claro que não deixaremos que corram riscos ou se ponham em perigo; é preciso que pensem em causa e efeito. Envolvê-los na busca de soluções para as situações cotidianas (como o que serviremos para as visitas), também os ajuda a pensar, planejar e direcionar suas ações.

Qual é a importância das atividades em família?

Viviane R. de Souza

É através da convivência que transmitimos aos filhos as lições de vida, os valores, as crenças e referências para as diversas situações que enfrentarão na vida. Atividades planejadas, divertidas e bem aproveitadas oferecem esta interação e convivência, além de favorecer os laços afetivos.

Esse tempo de qualidade, fazendo alguma coisa juntos (em família), abre espaço para o diálogo, a troca de experiências e o conhecimento uns dos outros. É fundamental o envolvimento e a participação de todos na escolha e execução destas atividades, que podem ser em casa, como jogos, cozinhar juntos, ler para as crianças, noite do filme com pipoca; ou fora de casa, como um piquenique no parque, uma ida ao cinema ou jantar juntos.

As crianças adoram descobrir “coisas novas”?

Viviane R. de Souza

Sim, porque para as crianças existem uma infinidade de coisas a serem descobertas, muitas lições a serem aprendidas e habilidades a serem desenvolvidas. E é nossa tarefa, como pais e cuidadores, oferecer oportunidades e permitir experiências para que possam crescer e se desenvolver adequadamente.

A memória afetiva transforma as coisas simples em coisas especiais. É formada a partir de percepções sensoriais, como sentir gostos e cheiros, ouvir determinados sons e ver certas coisas. Essa memória é produzida por experiências significativas registradas pela nossa consciência ao longo da vida, desde a infância.

Experiências vividas formam a bagagem de vida?

Viviane R. de Souza

Com certeza. As experiências significativas trazem o aprendizado, em especial de crenças e valores que os acompanharão enquanto crescem. Tudo que uma criança vive, seja no âmbito familiar ou social, compõe a sua bagagem de vida. A participação e envolvimento de todos precisa ser incentivada desde cedo e estabelecido um dia ou momento especial para isso, pelo menos uma vez por semana.

À medida que crescem (principalmente na adolescência), estes momentos, mesmo que em formatos diferentes, ganham ainda mais importância para um relacionamento saudável entre pais e filhos.

O que é melhor: Ouvir ou escutar? Qual é a diferença?

Viviane R. de Souza

Vamos começar pela diferença: ouvir está relacionado à captação do som. Ouvimos os barulhos da rua, as pessoas que passam conversando, crianças brincando, alguma máquina de lavar trabalhando, o barulho do ventilador na sala ao lado.

Escutar, além de captar o som, está relacionado a todo o processo cognitivo envolvido na identificação, análise e compreensão deste som. De certa forma, poderíamos dizer que escutar é ouvir com atenção!

Existem reclamações no contexto dos relacionamentos?

Viviane R. de Souza

Sim. Uma das maiores reclamações, seja entre pais e filhos, marido e esposa ou na esfera profissional, é a falta de escutar o que o outro está dizendo. Facilmente encontramos pessoas com a necessidade de falar, mas poucos são os dispostos a escutar.

Quando nos dispomos a ouvir alguém com atenção, vamos além dos sons das palavras, tentamos compreender aquilo que está sendo dito, sem julgamentos, sem elaborar respostas, sem pressa, apenas buscando assimilar a percepção, a necessidade ou o ponto de vista do outro.

A escuta responsável traz boa convivência?

Viviane R. de Souza

A boa convivência exige que conheçamos as pessoas, mas para conhecer alguém verdadeiramente, é preciso escutar seus sonhos, seus projetos, suas dúvidas e temores. A melhor coisa que se pode dar a alguém é a atenção, dedicando parte do seu tempo para escutar o que o outro tem a dizer.

Podemos acreditar no amor?

Viviane R. de Souza

Sempre! Mas é primordial ter em mente que o amor vai além das palavras; ele é demonstrado nas ações e comportamentos. É através do amor incondicional recebido dos pais que a criança percebe seu valor enquanto pessoa e pode desenvolver-se cognitiva e emocionalmente de forma equilibrada.

Então o que é o amor incondicional?

Viviane R. de Souza

É o amor sem condições, ele não acontece porque o filho se comporta bem, tira boas notas ou faz o que você determinou. É uma dádiva gratuita, você ama por inteiro com as qualidades e apesar dos defeitos.

É esperado que os pais amem seus filhos, mas muitas vezes deparam-se com desafios. Os pais demonstram amor ao colocar regras e estabelecer limites ao comportamento dos filhos. Amam quando dedicam atenção, tempo de qualidade e partilham as experiências de vida. Amam quando demonstram (pelo exemplo) a importância do autocuidado, de se dedicar a realização dos sonhos e adotar atitudes para melhorar os relacionamentos interpessoais.

Para concluir: canal de comunicação aberto é o segredo?

Viviane R. de Souza

Quando, através do afeto, palavras e gestos, os pais deixam o canal de comunicação aberto para que os filhos expressem seus sentimentos sem medo, com confiança, isso favorece relacionamentos ao longo da vida, tornando-os pessoas mais seguras e felizes.

O segredo da boa convivência é valorizar as qualidades, aprender a lidar com as diferenças e lutar juntos para alcançar os objetivos. O maior legado que se pode transmitir é o amor!

 

Jael Eneas
Viver Editora
Assessoria de Comunicação

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