A educadora Marina Miranda Fiuza transformou sua experiência como mãe num texto poético e sensível. Seu testemunho homenageia todas as mães guerreiras de todos os tempos.

Entrei na escola da maternidade há 18 anos, num fim de domingo. A convocação para essa grande aula inaugural, sem a paciência de aguardar a manhã do dia útil que se aproximava, prenunciava a rígida pedagogia.

Ao receber minha filha nos braços, assinei todos os termos sem me preocupar com as letras miúdas daquele contrato. Estava imediatamente convencida do desejo de ser mãe, mesmo ignorando os pré-requisitos que me eram exigidos e os compromissos que firmava. Fiz minha matrícula com o entusiasmo ingênuo de um novato.

Sou aluna assídua, minha lista de presença é impecável. Respondi a todas as chamadas: aos choros da madrugada, às mamadeiras, às fraldas sujas, aos dias de vacina, à testa batida, aos joelhos ralados, às febres, aos narizes entupidos, às camas compartilhadas, aos medos do escuro, às histórias antes de dormir, às comidinhas de faz de conta, ao primeiro dia de aula, aos filmes infantis, às festas de aniversário, às fantasias, às reuniões escolares, às decepções, à fome, às amizades desfeitas, às esperanças, aos corações partidos, às recuperações, às dúvidas, às certezas, às portas fechadas, às vitórias, à euforia, à solidão…

Cumpri todos os créditos que couberam no meu histórico escolar. Tive 100% de aprovação, embora nem sempre com a nota máxima.

Continuo firme no meu propósito, ainda que o diploma permaneça sempre distante. Não há previsão de conclusão de curso nem risco de jubilação. Todo ano, a grade curricular se atualiza e são introduzidas matérias obrigatórias cujos assuntos eu desconheço completamente. A biblioteca vai ficando mais extensa, os saberes, mais complexos.

Por outro lado, os recreios têm ficado mais longos, dá para lanchar com mais tranquilidade. Esse último semestre tive até horário vago, uma aula em que não é preciso responder a chamada alguma. Quando descobri, comemorei, mas depois não soube muito bem o que fazer com essa novidade.

Fico feliz quando olho para trás e vejo minha trajetória acadêmica até aqui, registrada nos álbuns de fotografia, nas marcas datadas no batente da porta, nas cicatrizes da pele e nos brinquedos guardados dentro do armário.

Às vezes dá até vontade de repetir algumas disciplinas, mas as novas demandas não permitem. O tempo segue, sempre avante. Assim vou seguindo e aprendendo, sempre, na escola da maternidade.

 

Marina Miranda Fiuza – Coordenadora Literária
Casulo Editora | https://casuloeditora.com.br/

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