“O pedagogo em nossos dias é a pessoa que escolheu ‘ser professor’, assumindo as responsabilidades, o encantamento e também as desilusões muitas vezes vivenciadas na profissão docente”, Profa. Dra. Cristina Zukowski(*), pós-doutora pela FEUSP [2012] e UNIFESP [2022].

Eu fiz uma escolha de vida: fazer pedagogia e me tornar professora. Ser professor, para alguns, significa assumir um dom que recebeu em seu nascimento e acreditar que possui um talento herdado para o trabalho docente.

Várias crianças no espaço do “jogo simbólico”, ao brincar de casinha, imitam seus professores e os papéis da vida adulta por eles interpretados. Entende-se, no entanto, que a inspiração ou desejo inicial de se tornar professor passa pela indispensável formação inicial no curso de Pedagogia, ensino superior, e pela formação continuada que o acompanhará ao longo dos anos no ambiente educacional.

Um pedagogo pode ser habilitado, em sua formação inicial, ao exercício da docência na educação infantil, anos iniciais do ensino fundamental e na gestão escolar. Outros se dirigem aos espaços não formais de educação, como ONGs, museus, brinquedotecas, classe hospitalar, centrais de rádio e TV, editoras, e inúmeros espaços profissionais em mutação.

O processo ensino-aprendizagem e o cuidado com a educação das crianças sempre foram o centro das atenções de todo pedagogo. Sua função está diretamente relacionada ao estudo e pesquisa nas ciências da educação. A escolha da Pedagogia pode e deve incluir o amor às crianças, mas segue além do sentimento para o desenvolvimento de habilidades e competências nos diferentes saberes docentes que concorrem para o desenvolvimento integral do educando.

dia do pedagogo

O Dia do Pedagogo (20 de maio) foi instituído pela Lei nº 13.083/2015, como um espaço no tempo para valorizar os profissionais que

“planejam, executam e coordenam tarefas distintas, complexas, na área de educação, sempre em busca da excelência. A data tem, entre os seus inúmeros objetivos, o de fortalecer o debate do papel das famílias e escolas no desenvolvimento geral das crianças e jovens estudantes, delimitando as responsabilidades de cada um e, ao mesmo tempo, criando alternativas que ofereçam um ensino de qualidade e levem-nos a uma boa formação profissional e, acima de tudo, humana” (BRASIL, MEC, 2023).

Ao celebrarmos o Dia do Pedagogo, apontamos alguns desafios para a categoria profissional, como:

  • o reconhecimento e valorização do trabalho docente na sociedade contemporânea;
  • a necessidade de melhoria na remuneração e a busca de atratividade na carreira, para que jovens com boa proficiência tenham o desejo de ingressar na docência;
  • o espaço institucionalizado de formação continuada para o desenvolvimento profissional em serviço é exigência de primeira ordem;
  • o bem-estar integral precisa ser considerado para que a saúde física e mental do profissional da educação encontre maior espaço de acolhimento, apoio e expansão;
  • a falta de respeito ao profissional da área – ao se respeitar o protagonismo do professor/pedagogo, abre-se a possibilidade de autoria, construção, criação e extrapolação da mera reprodução de conhecimentos;
  • o exercício da Pedagogia não precisa ser uma área de atuação necessariamente feminina e pode-se refletir um pouco mais a respeito dessa questão na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental;
  • as novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TEDICs) e a inteligência artificial impulsionam novos estudos, pesquisas, retomando e reconstruindo trilhas de aprendizagem na escola;
  • o trabalho e o desenvolvimento de competências socioemocionais começam na vida de cada professor para que, de forma intencional e planejada, possam transbordar em vivências com as crianças também.

 

Dia do Pedagogo

Muitos professores que dedicaram suas vidas à educação poderiam ser hoje lembrados, mas destaco o nome de Janusz Korczak.

Em 1939, na Segunda Guerra Mundial, os alemães invadiram a Polônia e tomaram a cidade de Varsóvia. Nessa cidade, há vários anos, Janusz Korczak, médico e educador polonês, judeu, morava com 150 crianças num orfanato para crianças judias pobres, o qual havia idealizado e construído com ajuda da sociedade local. Com muito diálogo entre as crianças, Korczak e a amiga Stefania conseguiram, ainda antes da Primeira Guerra, que o Lar-Escola se organizasse mediante a autogestão.

As próprias crianças seriam as responsáveis por atividades que envolviam a gestão de atividades e convivência interior. A autonomia emocional e cognitiva, bem como aquela desencadeada pela tomada de atitudes e suas responsabilidades, propiciava a construção de competências socioemocionais na formação de cidadãos felizes, responsáveis e conscientes de seus atos:

“Os acontecimentos da vida no Lar eram revisitados semanalmente por meio da leitura de um jornal interno. Korczak se reunia com as crianças e lia o ocorrido naquela semana. Além das notícias semanais, todos podiam enviar poemas e mensagens para serem lidos no jornal. Desse modo, estabelecia-se o vínculo entre uma semana e outra da vida no Lar (MARANGON, 2019, p. 175).

No tribunal de arbitragem do Lar-Escola, Korczak estabelecia o primeiro passo para a emancipação e vivência de uma Declaração dos Direitos da Criança. Apoiava o direito de exigir que seus problemas fossem tratados com imparcialidade e seriedade. O respeito e o amor foram alicerces que sustentaram a construção pedagógica de Korczak.

Ele acompanhou suas crianças confiantemente até o fim. O legado desse Lar-Escola ensina cada pedagogo e cidadão, ainda hoje, a superar desafios profissionais e pessoais, enxergando seu mundo com os olhos atentos, curiosos, ávidos e amorosos de uma criança.

E que o Dia do Pedagogo nos instigue a novas reflexões!

 

(*)  Cristina Zukowski-Tavares, Pedagogia (UNASP, 1987); Mestrado e Doutorado em Educação (PUCSP, 2003 e 2008); Pós-Doutorado em Educação (FEUSP, 2012; Pós-Doutorado em Ensino para as Ciências da Saúde (UNIFESP, 2022).

https://www.escavador.com/sobre/3788864/cristina-zukowsky-tavares

(*) Referências

BRASIL/MEC. Dia do Pedagogo. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/222-537011943/64211-data-celebra-atividade-e-lembra-importancia-da-boa-formacao . Acesso em 18/05/23.

MARANGON, A.C.R. Janusz Korczak e os direitos da criança: entrelaçando vida e obra. In: BOTO, C., ed. Clássicos do pensamento pedagógico: olhares entrecruzados [online]. Uberlândia: EDUFU, 2019, pp. 171-187. História, Pensamento, Educação collection. Novas Investigações series, vol. 9. ISBN: 978-65-5824-027-3.

Disponível em: http://books.scielo.org/id/fjnhs/pdf/boto-9786558240273-09.pdf.

https://doi.org/10.14393/edufu-978-85-7078-472-8. Acesso em 18/05/23.

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